Frase de amigo

"Repaginou o Blog. Repaginou a vida." - Silvio Afonso

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Arte tumular & História


Photos by Nadja P.

Arte tumular ou Arte funerária é um termo usado para designar obras feitas para permanecerem em cima das sepulturasnos cemitérios e igrejas
  É uma forma de representação que está ligada à cosmovisão de determinado contexto histórico, ideológico, social e econômico, interpretando a vida e a morte

Cemitério da Saudade 

 O Cemitério da Saudade é o maior cemitério municipal de Campinas/SP.
Fundado em 1881, localiza-se próximo à região central da cidade, no bairro Ponte Preta
abriga 32 mil sepulturas em estilo tradicional que ocupam suas 112 quadras dispostas em 
área de 181,5 mil metros quadrados. 
  O portal de entrada e um dos prédios administrativos foram feitos pelo arquiteto 
Ramos de Azevedo em 1913. Até 1925, o lugar era conhecido como Cemitério do Fundão.
 Tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc),
 o Cemitério da Saudade foi cenário de parte do filme Memórias Póstumas, inspirado no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis e estrelado por 
Sônia Braga e Reginaldo Farias
  É frequentemente utilizado como campo para desenvolvimento de teses universitárias e de estudos do meio (por estudantes do ciclo fundamental de ensino).

Cemitério da Saudade - Campinas/SP

  Quer conhecê-lo sem medo, cisma ou quaisquer outros sentimentos que impeçam a visualização da Arte em si?
 Vem comigo! Irá surpreender-se com o que verá!



    Monumento/Túmulo ao Soldado Constitucionalista, localizado bem na entrada.
   Dedicado aos campineiros que perderam a vida na Revolução de 1932.
  Abaixo está o lindo poema do saudoso poeta Guilherme de Almeida, dedicado às vítimas.


 Minha mãe sempre tinha histórias pra contar a respeito desses jovens soldados, filhos das famílias campineiras. 


Que descansem em paz!

Entrada principal do Cemitério da Saudade, localizado em Campinas/SP, projeto de 
Ramos de Azevedo.





.
Logo nas primeiras quadras pode-se observar uma grande quantidade de jazigos destinados às crianças, filhos das tradicionais famílias campineiras, que perderam a vida durante a epidemia de febre amarela, ocorrida na minha cidade em 1889.
Por pouco a população campineira não foi dizimada.
 Outras vítimas, sem dúvida, morreram por doenças das quais não tinham um tratamento avançado como agora.

Materiais para decorar os jazigos

Nessa época o mármore carrara era a pedra preferida para decorar os jazigos e mausoléus.
Depois vieram outros tipos de pedra. 
Juntamente com os caquinhos de cerâmica vermelha. 
Até que na década de 70 os azulejos vitrificados e decorados eram os preferidos da época.

Jazigo construído no estilo Art Nouveau, propriedade de Francisco Glicério, um dos ilustres de minha cidade. 
 A flor de maio nascida no tronco da árvore, 
à direita, já desponta um botão.
É a vida em comum acordo com a morte.


Desde criança admiro a beleza da imagem 
deste anjo!




A trepadeira encontrou um bom lugar, a placa indica que o falecido era músico.


  Falando em placa, encontrei uma bem antiga com o nome de minha falecida mãe, grafia que ela fazia questão de repetir: "Jeannette com dois n e dois t".
  Notem o envelhecimento natural dos relevos entorno da placa, lindo!



Que maravilha essa textura natural na coluna, 
à esquerda!
Obra do tempo...


Maria Jandira, prostituta e suicida no passado, milagreira no presente. 
Não importa o que ela tenha sido ou feito.
Quem sou eu para julgá-la? 
Só Deus.
Descanse em paz!


A beleza dessa mulher chamou a minha atenção... 
Sem dúvida, formavam um belo casal!


  O jazigo cinza, à direita, sem placas, sendo que até as iniciais da família foram roubadas, pertence à família do Barão Geraldo de Rezende, importante e rico fazendeiro que residiu em Campinas/SP. 
    O pequeno túmulo ao lado, coberto por plaquinhas e vasos de flores, pertence ao seu Escravo Toninho
   Em vida ambos foram amigos, mas, antes de morrer,Toninho pediu que fosse sepultado ao lado do seu dono. 
   Pedido aceito pelo Barão embora muitos tenham resmungado. Só não entendo como o Barão Geraldo de Rezende foi tido como um escravocrata cruel e aceitou ter um escravo sepultado ao seu lado.
   O Escravo Toninho como é chamado até hoje, também é um dos milagreiros do cemitério.



O anjo, à direita, precisa de ajuda, acho que está com o nariz entupido...


Amei essa plantinha pendente
Mas deixei quietinha aí, afinal, os mortos não devem ser profanados em nenhum sentido.
Respeito é bom e eu gosto.


Há imagens que dispensam comentários!


Dentre tantas obras antigas, algumas são modernas. 
Esqueci de citar que a maioria das obras esculpidas em bronze, mármore carrara, cobre/latão, contidas no Cemitério da Saudade são autoria de Lélio Collucini, J. Rosadas, Velez, e Albertini
   A criatura com shorts vermelho, que sassarica na alameda atrás da imagem dos anjos, sou eu.
Não é nenhum fantasma, tá bão? 









 Essas algumas das obras artísticas que captei com a minha máquina, pois o Cemitério da Saudade de Campinas possuí um imenso acervo arquitetônico a céu aberto, daqueles que a gente perde de vista.
   Não, não tenho problemas em visitar cemitérios antigos ou modernos, ao contrário, encaro-os como um lugar de paz, sossego.
Uma paz que nem sempre encontro em hospitais, por exemplo, onde o sofrimento humano machuca, dói.
No campo santo, ao contrário, tudo é cessado, porque TODOS voltaram ao pó.


O lamento na morte faz parte do homem terreno, não há o que dizer sobre isso, mas nada como a fé para preencher a ausência. 
Viram?


Não é tão tenebroso visitar um cemitério, basta ter olhos de artista.

"Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou 
despertá-lo". 

Jesus Cristo

16 comentários:

  1. Verdade, afinal é o único lugar que lembra de vidas que já se foram, mas que deixou algo ou alguém com história para contar. Um dia após a morte de meu marido encontrei em sua agenda a seguinte frase "A morte é o fim do discurso do homem e o início do discurso de Deus" (não sei o autor) achei a a frase bonita e coloquei em seu tumulo.
    Agora me conta? vc foi apenas passear no cemitério? Achei interessante bjss

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    1. Te conto sim...
      Eu e o meu marido somos amantes da Fotografia, por isso de vez em quando vamos fotografar nesse antigo cemitério.
      Eu, particularmente, também aprecio a Arte Tumular e curto História.
      Meu objetivo é bem diferente da maioria que visita o cemitério, para venerar unicamente os seus mortos. Mesmo assim tenho profundo respeito pelos rituais e costumes.
      Achei muito bonita e oportuna a frase que você colocou na lápide do seu marido!
      Grande verdade, não é?

      Bjksss

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  2. Nadja, apesar de parecer um gosto mórbido, também sinto muita paz quando visito cemitérios (mas só quando necessário). Antes tinha medo, depois que a gente passa por algumas perdas e acaba tendo que frequentar esses espaços, acaba se acostumando e aprendendo a sentí-los como um lugar de tranquilidade e reflexão. Compartilho do seu sentimento com relação aos hospitais que me trazem lembranças sofridas, tristeza e agitação. Além de admirar a arte dos jazigos, costumo ler as lápides e tento imaginar e sentir a história daquelas pessoas, como a dos pais que perderam a pequena Jeanette antes de completar seu primeiro aniversário, conforme pode ser visto na foto acima. Parabéns pela sensibilidade do post. Beijos!

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    1. Érica,

      Infelizmente muita gente ainda encara a ida ao cemitério como algo mórbido.
      Mas entendo esse conceito deturpado, cultivado pela população brasileira.
      Bem diferente do que ocorre nos povos desenvolvidos como dá-se entre europeus e norte-americanos.
      Os orientais, por sua vez, também possuem uma visão completamente diferente e encaram com naturalidade essa questão.
      Olha só que engraçado... Desde criança gostava de ir ao cemitério com minha mãe somente para admirar as imagens esculpidas e olhar as fotografias dos falecidos.
      Eu tinha um certo receio por conta dos adultos que promoviam isso em mim, mas na fase adulta perdi o medo, mas não o gosto pela arte. Ainda bem, né?
      Sim, os hospitais são lugares apavorantes! Evito ao máximo pisar neles.
      Eu também gosto de observar as fotos, as datas de nascimento/falecimento dos falecidos, tudo isso me faz refletir o valor da vida e da morte, afinal, ambas existem por conta de alguma finalidade divina, penso eu.
      Eu é agradeço a sua sensibilidade, amiga!
      Pelo visto é tão sensível quanto eu.
      Parabéns pra você também!

      Bjksss

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  3. Nadja, parabéns pela sua coragem! E pelo olhar que lançou a este lugar. Gostei muito. Você é especial. Nos proporcionou um passeeio num lugar tranquilo. E como disseste bem:Um lugar de paz e sossego. Um campo santo, onde todo o sofrimento já cessou. Conseguiste captar a beleza que existe. O acervo arquitetônico a céu aberto. Muito lindo. E os anjos: Belos. Parabéns, parabéns! Isso mostra o quanto você é evoluída espiritualmente. Estou emocionada.
    Beijos,
    Bel

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    1. Obrigada Bel!

      Na verdade sou mais polêmica do que corajosa, viu? :)
      Porque para mim, não há barreiras quando o assunto é Arte/Fotografia. Meus olhos apenas buscam o que encaro como Arte e História.
      Somos especiais, amiga! Graças a Deus!
      Costumo dizer que muita gente sempre deixa escapar lindas imagens e lindos momentos por conta dos olhos vazios.
      Fico feliz por ter captado TUDO que penso e sinto sobre esse lugar da qual querendo ou não, será a morada de nossos ossos.
      Obrigada por compartilhar assim como Nal e Érica, pessoas tão sensíveis quanto eu.
      E mais uma vez agradeço a Deus por tê-las perto de mim!
      Eu é que fiquei emocionada, amiga! E mais uma vez agradeço o seu comentário sincero e profundamente tocante.
      Obrigada Deus!
      Thank God!

      Bjksss

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  4. Engraçado, vc disse que odeia ser fotografada de costas, mas a primeira coisa que reparei, foi sua imagem de costas! tá cut cut! deixe ser fotografa sem medo de ser feliz, rsss
    Esse cemitério é muito bonito mesmo, um outro bem menor mas bonito tbém, é o cemitério de sousas, já tenho meus avós italianos paternos.
    Engraçado que qd era menina eu adorava sentar e ficar em pé em cima dos túmulos, e minha mãe dizia que era falta de respeito com os mortos, :)
    bjs
    Parabéns pela iniciativa.!

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    1. Ser fotografada de costa.
      Continuo odiando...tsc, tsc.
      Mas ele me convenceu que saí bem! :-) E se eu tô cut cut, porque não postá-la?
      Esse ano o meu lema é: Que seja! :-)
      Ana, conheço muito pouco o Cemitério de Sousas, pois fui somente uma vez lá, justamente, no enterro da sogra de uma amiga. Mas deu pra notar que é um cemitério bonito embora pequeno.
      Sentar nos túmulos...
      Minha mãe falava o mesmo. Coitada de nós, pobres crianças inocentes! :-(
      Hoje em dia a profanação é tão chocante que nem vale a pena ser mencionada em detalhes.
      Imagine, você chegar diante da sepultura de seus avós e encontrar tudo revirado.
      E há até quem mantém relações sexuais sobre os túmulos. Triste, muito triste.
      Eu tenho meu conceito sobre a morte, mas é inaceitável a falta de respeito que ocorre atualmente nos cemitérios em geral.
      Ainda bem que o Cemitério da Saudade, atualmente, encontra-se fiscalizado e limpo, apesar do seu tamanho.
      Mas sempre é bom ir acompanhada, pois os vivos são capazes de tudo. Os mortos? Espero que descansem em paz.
      Obrigada! Compartilhar é sempre bom!

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  5. Tava lembrando aqui,vendo essas fotos, que eu adorava ver os anjos, enormes, e as capelinhas tbém.
    Era muito boa pra achar o túmulo que eu não lembro de quem era,adorava ser a "esperta", coisas de criança né? rsss,
    fui muito em dia de finados aí com minha mãe.
    Preciso perguntar pra ela quem está lá.

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    1. Anjos, capelinhas...
      Continuo gostando de tudo isso, mas sem medo de encontrá-los nos cemitérios.
      Não sei porque os antigos promoviam esse medo de mortos nas crianças. Por muito tempo dormi com os pés cobertos, imagine!
      Achar túmulos...
      Era a minha predileção também, principalmente no Dia de Finados.
      Mamãe, o tio Antônio tá aqui! - gritava.
      KKKK
      Minha mãe nunca encontrava o jazigo do seu irmão...
      Fora isso tudo era uma festa regada com sorvete, pipoca, algodão doce, o vai e vem no túmulo de um, de outro. Sem contar os cumprimentos e as longas conversas com parentes e amigos que não víamos há anos.
      Mas nunca deixando de visitar os jazigos do Escravo Toninho e da Maria Jandira.
      Quem era Maria Jandira, mamãe? A resposta nunca vinha...hehehe
      À noite meus "zoios" viravam feito coruja diante das estórias de medo, envolvendo o Dia dos Mortos.
      Saudade!
      Obrigada por refrescar a minha memória! :-)

      Bjksss

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  6. Eu acho lindo demais, belo post!
    Bjos, Mari.

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  7. OI Nadja! Bela postagem, recheada de informações impostantes com arte não só tumular como da fotografia. Interessante, nunca tivemos (eu e meus irmãos) medo de cemitério. Meu pai sempre colocou esse assunto de uma forma muito tranquila para nós e quando ouvíamos dos outros algo tenebroso, não assustávamos. Não tenho o hábito de visitar cemitérios, só quando há um funeral, mas não deixo de ler as lápides e ver datas. Bem lembrada a passagem de da ressurreição de Lázaro e completo com as palavras de Jesus no diálogo com Marta, irmã de Lázaro: !Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim ainda que esteja morto viverá e todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente. Crê isto?" Não é maravilhoso crer que viveremos eternamente? Amiga, sua postagem me levou a fortalecer minha fé e renovar a esperança no Autor da vida eterna. Que Deus te abençoe e que continue com suas postagens promotoras de reflexões! Beijossss!!

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    1. Oi Dirce!

      E aí? Como estava o acampamento que participou com o pessoal de sua igreja? Estou curiosa!
      Obrigada amiga!
      Você sabe que gosto de História, Fotografia e Artes, então pude juntar tudo isso, visitando também esse cemitério antigo, um dos mais importantes do Brasil, justamente por causa do seu belo acervo arquitetônico.
      Medo de criança...
      Você foi uma exceção numa época em que a maioria das crianças era alimentada diariamente com estórias de medo e culpa.
      Vide as cantigas de ninar que mais pareciam "cantigas de terror"...
      Felizmente pude me libertar de tudo isso, assim que passei estudar a Bíblia.
      Então compreendi que muitas coisas das quais sentia medo, não passavam de "estórias de velhas". - como diz a própria Escritura.
      Meu interesse por cemitério é meramente voltado à Arte ou para despedida de parentes ou amigos.
      Não costumo venerar os mortos em suas lápides, mas respeito quem o faz.
      Ressurreição de Lázaro...
      É a passagem mais emocionante contida no Evangelho, na minha simples opinião.
      Naquela ocasião, Jesus demostrou claramente o poder que lhe foi concedido pelo Pai, trazendo o seu amigo Lázaro à vida, depois de 04 dias.
      Mostrou também que apesar de ele ser o Filho de Deus, Jesus também cultivava sentimentos iguais aos humanos.
      Aprendi com Jesus, nesta passagem, que não é errado chorar quando perco um ente querido na morte, pois isso faz parte do sentimento humano.
      Não é uma fraqueza, sem dúvida!
      Acima de tudo, Jesus demonstrou a sua plena submissão e o amor ao Pai, quando orou em agradecimento pelo poder que lhe foi dado naquele momento crucial que marcou definitivamente a história humana.
      Ele tinha plena certeza que ia acontecer esse milagre, pois tinha absoluta fé no seu Pai.
      Que lindo! Amo JESUS! É o maior exemplo de tudo de bom que alguém pode imaginar.

      "Pai, graças te dou que me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa desta multidão que me cerca, a fim de crerem que tu me enviaste."

      Fico feliz que essa postagem, feita de coração, tenha tocado a sua fé e de todas as amigas que comentaram ou não.
      Agradeço a Deus por ter dado essa oportunidade de refletirmos na importância da vida e da morte, afinal são duas certezas absolutas das quais não podemos fugir.
      Que Deus abençoe você também, querida amiga! Sou grata pela sua amizade!
      Que Deus abençoe a todos nós!

      Bjkssss

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  8. Nadja, quando vou a cemitérios, gosto de ler as placas! quanta coisa linda se vê dentro deles! e quanta paz encontramos! estou precisando ir à Curitiba visitar o cemitério onde meu pai foi enterrado! É o Água verde! meun pai comprou um lote quando eu ainda era adolescente! serviu para muita gente da família e até quem não era foi enterrado lá! pediam para meu pai, ele não sabia dizer não!

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    1. Eu também!
      Placas com data de nascimento e morte. Fotografias.
      Numa dessa sempre acabo encontrando nomes ilustres e até conhecidos, amigos meus!
      E fico surpresa com tanta gente bonita, viu?
      Vá sim!
      É sempre assim, agora, experimenta reunir o pessoal pra dividir a reforma do jazigo... Ninguém topa e a gente tem que arcar com tudo sozinha...

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"Abra teu coração ou eu arrombo a janela"

"Abra teu coração ou eu arrombo a janela"
Chico Buarque