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quarta-feira, 20 de março de 2013

A Grande Família


A Grande Família

Início dos anos 70...
Não era uma família como a maioria da época, e acredito que nos dias atuais também seria diferente.
O fato que vou relatar aqui é real. E por conta da ética, omitirei os nomes verdadeiros.
Pois bem, nosso vizinho quando morávamos na área central chamava-se "Seo Kaka". Homem bem aparentado, charmoso, educado, e fisionomicamente parecido com o ex-presidente egípcio Anwar Sadat, só que mais claro do que o falecido político. 
Seo Kaka foi casado em primeiras núpcias com Dona Keké, senhora bonita, discreta e educada. O casal não teve filho.
Mas recolheu para dentro de casa a Kiki, sobrinha de Dona Keké, jovem bonita e vistosa que, aos poucos, enrabichou-se com o Seo Kaka, esposo de sua solidária tia.
Com o tempo o casal desquitou-se e o Seo Kaka casou-se com a jovem Kiki e tiveram dois filhos.
Dois meninos, por sinal, educados e bonitos.
O tempo passou novamente e o Seo Kaka separou- se da Kiki, mulher danadinha que causava frisson por onde passava, porque era bonitona.
Novamente Seo Kaka ficou sozinho por um tempo, mas logo decidiu casar-se novamente. 
E desta vez escolheu a Kokó, mulher feia, sem graça e sem sal. Com ela teve dois filhos feiosos como a mãe.
Sim, mas aonde entra o título: A Grande Família?
Ora, todos sem exceção davam-se muito bem!
A  ex-primeira esposa do Seo Kaka, a discreta Dona Keké, era madrinha de batismo de um dos filhos de Kokó, a terceira esposa com quem ele havia casado.
Kokó, a feiosa, costumava chamar Dona Keké de "comadre" enquanto um dos seus filhos a chamava de "madrinha". 
Kiki, a sobrinha de Dona Keké, que foi a causa da separação da tia, frequentava regularmente a casa do Seo Kaká e da Kokó, sem problemas! 
E de vez em quando levava um novo namorado...
Muitas vezes, Kiki deixava os filhos o dia inteiro por lá e só buscava-os à noite, depois que voltava do trabalho.
Os meninos da Kiki, por sua vez, davam-se muito bem com os filhos da Kokó, a madrasta.
E assim perdi as contas de quantas vezes a grande família reunia-se aos domingos, para almoçar numa grande mesa estendida no rancho da casa. 
Nunca ouvi uma discussão ou coisa parecida. Também nunca notei nenhum sinal de ciúmes entre as mulheres, apesar de minha pouca idade.
O que realmente marcou foi a interação que todos ali cultivavam entre si numa família fora dos padrões.
A última cena que tive dessa grande família foi no funeral do Seo Kaka...
Estendido em um caixão e coberto por flores, Seo Kaka ficou o tempo inteiro rodeado por Dona Keké, sua ex-primeira esposa, pela Kiki, a ex-segunda esposa e os dois filhos, seguidos de Kokó, a terceira e última, juntamente com seus filhos. 
Todos unidos, prantearam a morte do velho garanhão.
Não, não desejo julgar ninguém. A sociedade daquela época deve ter feito isso muito bem!
Por parte dos meus pais nunca houve um sinal de preconceito embora não aprovassem nada daquilo.
Seo Kaka além de ser um bom vizinho, era uma boa pessoa, tornou-se até amigo do meu pai. Ambos davam-se muito bem. E a grande família nunca nos causou qualquer aborrecimento.
De minha parte, juro, nunca cultivei nenhuma distância das crianças ou dos adultos por conta disso tudo, mesmo tendo pouco contato com eles, porque a minha mãe não deixava brincar na casa de ninguém.
O fato é que era uma família feliz! Do jeito deles.

Nadja P.

2 comentários:

  1. É, Nadja, uma história e tanto! Nomes engraçados que vc batizou cada um...
    Realmente, existem muitos casos como esse rolando por aí... Grande Família c sua "interação muito diferente"...
    Valeu, hein! Uma reflexão muito boa!

    Beijos... Uma 5ª feira tranquila p vc...
    Obrigada pelas palavras tão sinceras por lá...

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    Respostas
    1. Oi Anete!

      Sim, essa família era bem diferente das demais, mas era feliz do seu modo.
      "Eram inofensivos" - como diz o meu velho pai.
      Uma quinta tranquila pra você também!

      Bjksss

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